Não há dinheiro

Uns dias depois de oficializar a compra do argelino Brahimi por 6,5 milhões de euros, correspondentes à totalidade do passe do atleta, o Futebol Clube do Porto alienou 80% desse mesmo passe à Doyen Sports por 5 milhões. Este negócio avalia o passe do atleta em 6,25 milhões de euros, menos 250 milhares de euros do que aquilo que o Porto pagou pelo jogador. Ou seja, à cabeça, já estamos a perder esses 250.000 euros.

Ainda que este negócio possa envolver uma recuperação de parte do passe de Mangala, cuja oficialização no Manchester City deve estar por horas, importa analisar e perceber como o Futebol Clube do Porto se está a movimentar no mercado de transferências. Há duas coisas que sobressaem imediatamente. Uma é o facto da administração da SAD, pela primeira vez em muito tempo, estar a permitir que seja o treinador a escolher os atletas com quem quer trabalhar, o que, a não ser que aconteça uma hecatombe, como uma saída não adequadamente compensada de Jackson Martinez, fará com que Lopetegui terá um excelente plantel, cheio de soluções, o que originará que seja o único responsável caso a época corra mal, isentando Pinto da Costa (e o filho, a filha, o genro e todo o resto da família), Antero Henriques e o resto dos dirigentes. A outra é que o Porto não tem dinheiro para dar essas condições a Lopetegui (nem para mandar cantar um cego, sequer).

O facto do Porto não ter dinheiro, fruto de gastos desmesurados acumulados ao longo dos anos, não é novidade e, então, recorrer a fundos torna-se necessário, ainda para mais quando as portas da banca, por imposição da troika e devido às trapalhadas no BES estão cada vez mais fechadas. Do mal o menos, o Doyen Sports é o menos obscuro de todos estes fundos esquisitos. É o único que tem página na internet e é o único de quem se conhece a carteira de atletas. Só não se sabe a quem pertence o fundo.

O que é importante verificar é que o Futebol Clube do Porto está a apostar tudo na época que se avizinha. Faz sentido. É necessário ultrapassar rapidamente a pior época da história da presidência de Pinto da Costa e é necessário fazer uma boa campanha europeia sob pena de, muito rapidamente cairmos muitos lugares no ranking da UEFA. Assim, a solução encontrada pelo clube foi recorrer aos fundos. Com isto, o clube está a apostar tudo na vertente desportiva, abdicando da financeira. O clube, para poder ter um grande plantel hoje, está a abdicar de o ter no futuro. E o que todos tememos é que para ganharmos hoje, estejamos a abdicar de ganhar no futuro. Esperemos que não se traduza numa debandada como se vê lá para baixo, no clube que nunca mais ia ter que vender.


A caminho do abismo?

Quando eu nasci, Pinto da Costa já comandava os destinos do melhor clube do Mundo. E, assim sendo, habituei-me a ver o meu clube a trocar de jogadores e treinadores, mas a manter sempre ao seu serviço o Messi, (ou o Cristiano Ronaldo, para não ferir susceptibilidades), dos dirigentes desportivos.

Deste modo, e embora sempre atento ao meu clube, nunca senti especial necessidade de me preocupar com o seu rumo, o seu futuro em termos desportivos, uma vez que a parte financeira me assusta há já alguns anos. Sabia que este era governado pela pessoa melhor governada para o cargo. Eu sou do tempo em que o Porto estava sempre um passo à frente. Lembro-me do Porto ter contratado o Fernando, precavendo a saída do Paulo "Webster" Assunção. E lembro-me do Porto ter contratado o Paulo Assunção para precaver a saída do Costinha. E estes são só alguns exemplos.

Todavia, desde a saída de André Villas-Boas, a equipa directiva do Futebol Clube do Porto tem tomado um conjunto de decisões que me deixam muitas dúvidas. Falcao demorou um ano a ser substituído, passámos meia temporada com apenas quatro atletas para três lugares no meio campo, Moutinho, Defour, Lucho e Fernando. Contratamos Liedson para fazer número e participar na festa do golo do Kelvin. Estivemos vários meses à espera de um extremo, até chegar Quaresma. Gastámos 11 milhões num atleta para substituir João Moutinho que anda a jogar pela equipa B. Os erros sucedem-se e as suspeitas de crescem a cada dia de que passa. De facto, ano após ano, o Porto tem comprado mais caro, e pago mais comissões a empresas das quais nada se sabe, registadas em países com elevado sigilo e uma fiscalidade mais atractiva. Também tem sido notória a selecção de alguns empresários privilegiados  nos negócios com o clube, independentemente da qualidade dos atletas que representam. Mas esta questão ficará para outro dia.

Neste momento, faltam pouco mais de 48 horas para o fecho do mercado de transferências. Já perdemos Lucho Gonzalez e, à partida perderá também Fernando. Dois símbolos do clube, dois dos capitães. Fernando esteve anos à espera de um contrato condizente com a sua preponderância, o seu esforço e a sua dedicação - já tinham feito o mesmo com Lisandro Lopez. Vai sair, provavelmente, barato, uma vez que termina contrato em Junho. Numa altura difícil da vida desportiva do clube, a SAD abdica de dois dos atletas mais importantes. Mais, abdica também da Liga Europa. Vejamos, o Porto apenas increveu 21 atletas na lista A das competições europeias. Teve de deixar quatro lugares de vago uma vez que não possui no seu plantel um único atleta que seja formado no clube, muito embora o todo-poderoso Antero Henriques tenha dito que "o Porto não vai abdicar de ter a melhor equipa para ter a melhor formação". A UEFA só permite três alterações na lista no mercado de inverno. E estas são, neste momento óbvias: saem o proscrito Fucile, (mais uma asneira da SAD ter apostado no uruguaio), o desaparecido Izmaylov e Lucho Gonzalez. Entrarão três atletas, até ver, Carlos Eduardo, Kelvin e Quaresma. Se Fernando sair também, ficaremos reduzidos a apenas 20 atletas, dos quais 5 são extremos. Fantástico.

A SAD do Futebol Clube do Porto tem pouco mais de 48 horas para limpar o monte de asneiras que tem feito nos últimos anos. Possivelmente serão aproveitadas para meter mais umas comissões ao bolso. Espero é que os portistas e Pinto da Costa estejam de olhos bem abertos.

[Liga dos Campeões] 2ª Jornada: FC Porto 1 - 2 Atlético de Madrid


Depois de uma primeira parte bastante bem conseguida e em que conseguimos passar para a frente do marcador, nada fazia crer que iríamos sair do jogo de ontem com algo menos do que uma vitória. O FCP voltou a fazer uma segunda parte sofrível, sem intensidade, baixando as linhas e desorganizando-se em bastantes mais momentos do que aqueles que o mais paciente adepto concebe permitir a uma equipa que é, e supostamente quer continuar a ser, uma das equipas do pote 1 do sorteio da Liga dos Campeões. 

Quero acreditar que nem tudo foi mau e até conseguir concordar que o resultado não é assim tão justo mas mais uma vez a falta de atitude e garra da segunda parte fazem-me recuar e achar que o Paulo Fonseca não vê os mesmos jogos que eu. Vamos por partes:


  • Intensidade dos primeiros 45 minutos: a forma como entramos em campo, com pressão alta sobre o portador da bola, linhas subidas, sectores bem coordenados, espaços reduzidos e sobretudo eficácia de passe fez-me pensar que as últimas más exibições eram para esquecer. A equipa finalmente dava sinais de querer inverter a imagem que tem deixado nos últimos tempos e acabamos mesmo por chegar ao golo num livre sublimemente marcado pelo Josué ao qual o Jackson correspondeu com a classe a que já nos habituou. Podíamos ter alargado a vantagem mas não fomos eficazes na finalização.
  • O talento de Josué: calou muita gente ontem. O Paulo Fonseca assumiu o risco de retirar Licá do onze inicial (já aqui volto) e acertou. O nosso 8 portista esteve bastante activo no jogo, assistiu para o golo de Jackson e teve dois ou três excelentes pormenores que ficaram na retina. Combinou bem com o meio campo, ajudou a pressionar alto e foi extremamente importante nas jogadas de ataque sempre que a bola passava por ele.
  • Fernando: pareceu jogar como gosta, sozinho. Intencionalmente ou não, Defour aparecia muitas vezes adiantado e o nosso meio campo assemelhava-se ao que tivemos durante os últimos três anos, com o Polvo a ocupar todos os espaços à frente da defesa. E é assim que ele brilha.
  • Onze inicial: bem pensado, bem montado e que permitiu dominar a primeira parte.


  • Displicência da segunda parte, especialmente da defesa: entramos desconcentrados, lentos, sem imaginação. Sofremos dois golos de bola parada quando à priori sabíamos que essa era uma das armas dos espanhóis. Fizemos faltas desnecessárias e perdemos por causa dos erros infantis da defesa nos lances que daí advieram.
  • Palavras de Paulo Fonseca: "Mesmo depois de sofrermos o golo, encostámos o Atlético lá atrás. A nossa equipa não quebrou na segunda parte". Não quebramos na segunda parte? A sério? Foi por isso que recuamos as linhas, que os jogadores ficaram exaustos e tiveram que recorrer a inúmeras faltas, algumas disparatadas e que só por acaso deram dois golos ao Atlético de Madrid. Não percebo qual foi o objectivo destas declarações e espero que o nosso treinador não seja ingénuo ao ponto de pensar que nós comemos o que nos dizem sem espírito crítico para perceber que na segunda parte o Atlético jogou porque nós simplesmente não nos impusemos.
  • Substituições: mesmo que o Lucho estivesse em dificuldades, numa altura em que não conseguíamos controlar o jogo a meio-campo e consequentemente dávamos a bola ao adversário, o treinador decide perder ainda mais meio-campo e meter o Quintero. Não fez qualquer sentido e só levou a que nunca mais conseguíssemos recuperar. Para além disso, Quintero nada fez em campo. Ainda neste aspecto, deixar o Varela acabar os 90 minutos e voltar a recorrer ao Ghilas como se de um D. Sebastião se tratasse é de bradar aos céus.

  • Agressividade/ingenuidade do Josué: se por um lado se deve elogiar a capacidade de entrega que teve ontem, por outro devemos criticar o excesso de agressividade que forçou o treinador a substituí-lo antes que visse o segundo amarelo. Acho que isto se deve sobretudo à sua inexperiência internacional e com o tempo irá aprender a não cometer estes erros que podem custar pontos.
  • Sistema táctico: é neste momento o hot topic das conversas entre portistas. Não estamos habituados ao duplo pivot e os resultados e exibições alcançadas até agora não nos levam a suspirar pelos próximos jogos. Neste modelo a defesa fica sem dúvida alguma mais exposta e a falta de largura e explosão no ataque faz com que não consigamos tirar pleno partido das vantagens do mesmo. Paulo Fonseca já disse que tinha as suas ideias mas eu pergunto, até quando?

Dois jogos, 3 pontos, segundo lugar no grupo. Ainda vamos à Rússia e a Madrid, ainda vamos receber o Zenit do Hulk e Witsel. Eu acredito que passamos a fase de grupos mas se continuarmos a achar que depois de marcar podemos dormir à sobra do resultado, como se fôssemos uma equipa pequena, podemos (e vamos) dar-nos mal. Pede-se garra e ambição e mais actos do que palavras.