Sobre a Taça da Anti-hegemonia
Realiza-se neste fim de semana a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa (AFL), uma competição entre clubes da região da capital e que, nas palavras do presidente da AFL Nuno Lobo, promete ser "a verdadeira festa da família, dos clubes e do futebol”.
Nuno Lobo, o grande impulsionador da reedição desta competição é alíás um fervoroso adepto do centralismo e quer aplicá-lo ao futebol português. Para os mais distraídos, Nuno Lobo foi o senhor que há uns tempos teve as declarações infelizes e triunfalistas relativamente à subida de divisão do Belenenses. Disse na altura: "Estou convicto que é a rutura do futebol português, que vai impor um fim no apogeu das equipas do norte e centro do país que aconteceu nos últimos 30 anos" e ainda "Com a subida do Belenenses, Lisboa assume maior preponderância e poder, não só a nível desportivo e competitivo, mas também a nível dos fóruns e palcos principais de discussão do futebol português".
Não só não faz qualquer sentido usar uma vitória na segunda divisão como bandeira de propaganda como chega a ser desconcertante que o actual Presidente de uma Associação de Futebol tenha tamanho desdém pelos clubes que não fazem parte do seu círculo de poder e que têm elevado a reputação do futebol português internacionalmente. Para além disso as declarações acabaram por se tornar ridículas tendo em conta que o Futebol Clube do Porto se sagrou tricampeão e o Arouca subiu também de divisão. Mas se calhar Nuno Lobo não estaria à espera que isso acontecesse...
Estamos perante alguém que não só se coloca numa posição de confronto relativamente às "equipas do norte e centro do país" como também demonstra grande respeito pelos clubes que representa:
É de facto estranho que Bruno de Carvalho, tão ansioso e esfomeado por polémicas, não tenha ainda tomado qualquer posição relativamente a este aspecto, que aliás é público e está à distância de uma pesquisa no Google. Como é também estranho que não se tenha pronunciado sobre os jogadores desviados pelo benfica (Pizzi é a última novidade) mas seja tão lesto a comentar Ghilas e Josué... mas isso é assunto para outro artigo.
Note-se que não quero pôr em causa a imparcialidade clubística do presidente da Associação de Futebol de Lisboa mas apenas perceber o que o move. E o que o move parece-me bastante claro e deixo a interpretação ao critério de quem nos lê:
Voltando agora à competição em si. Quer-me parecer que os grandes objetivos que ela encerrava já ficaram pelo caminho. A "festa da família" foi ontem manchada por adeptos do benfica e do sporting que, alheios ao facto de estarem inseridos numa sociedade, se comportaram como ser irracionais e quais hooligans desataram a lançar tochas e pedras acertando em tudo o que estava no seu raio de acção: desde carros a pessoas, nada escapou à sua fúria. Percebe-se o entusiasmo levado ao extremo.. era um jogo amigável em que absolutamente nada estava em disputa:
Por outro lado, o Sporting alinhou com a equipa B visto que está em estágio no Canadá. No adversário, o destaque era para a estreia de Silvio, o qual fez questão de "entrar a pés juntos" no jogo. No meio disto tudo muitas segundas opções e pouca espectacularidade o que acaba por desprestigiar a competição.
Por último, um comentário à RTP: é de interesse público transmitir a taça de honra da af lisboa? Mas a liga dos campeões já não é? Critérios...