O amuo de Lopetegui ou a azia do Maisfutebol

Exmos. Senhores,


Fui confrontado com uma notícia publicada no vosso website www.maisfutebol.iol.pt, em que se arrogam de acusar o treinador do Futebol Clube do Porto de amuar na conferência de imprensa que precedeu o jogo Basileia-Porto para os oitavos-de-final da Champions League. E, a razão do amuo, deve-se, segundo a mesma notícia, à resposta desagradável (para vocês) que Lopetegui deu aquando das tradicionais perguntas de baixo nível da Comunicação Social portuguesa.

De facto, até Lopetegui, um basco, que está em Portugal há menos de um ano, já percebeu como a Comunicação Social portuguesa, nomeadamente aquela sediada em Lisboa, que não esconde a sua parcialidade, a sua falta de isenção e a forma, perdoem-me a expressão, rasca, trata o Futebol Clube do Porto. Aquilo que Lopetegui vos fez ontem, ao denunciar este jornalismo de vão de escada e ao confrontar-vos com factos reais e facilmente comprováveis, não é um amuo. É uma extensão do sentimento de todos os portistas, que, infelizmente, mesmo que ganhem, mesmo que sejam melhores, não têm nunca o reconhecimento merecido em Portugal. Porque em Portugal temos uma Comunicação Social bacoca, impregnada por um vermelho e um verde que não os da bandeira nacional, e que é incapaz de fazer o seu trabalho como deve ser e relatar os factos tal e qual como eles são. O que Lopetegui já viu é que em Portugal existe uma comunicação que sofre com as dores de Benfica e Sporting, uma comunicação que branqueia trafulhices, erros de arbitragem, faltas de nível quando se referem à Segunda Circular. E o que Lopetegui disse ontem, é aquilo que muitos portistas sentem vontade de dizer. E acreditem, Lopetegui até foi brando.

Ontem, não foi Lopetegui que amuou. Foi o Maisfutebol que aziou. Possivelmente, a inveja de ontem ter sido dia de Champions para os portistas e quarta-feira para vocês, a não ser que tenham jogado Playstation, associada ao facto do Futebol Clube do Porto,  mesmo contra uma equipa muito bem organizada e um árbitro tendencioso, ter feito um bom resultado, ao invés de entrar num espírito calimeriano de choradeira épica, para justificar insucessos, poderá ter sido a causa. Não vos recomendo Rennies ou Kompensans. Isso seria descer ao vosso nível. Recomendaria era que tirassem os óculos coloridos na hora de ver e analisar o futebol e que percebessem que há mais Portugal fora de Lisboa. E um pingo de decência. Mas isso se calhar já é pedir de mais.

Com os melhores cumprimentos

A TVI devia dedicar-se à Casa dos Segredos



Uma semana depois daquela bonita cena protagonizada pelos canais Sporttv e TVI, de não enviarem nenhum jornalista à Bielorússia para acompanhar o Futebol Clube do Porto, deixando os intervenientes na partida a falar sozinhos na flash interview, ao contrário do que aconteceu no jogo do Chelsea, onde a estação de Queluz tinha em jornalista para entrevistar José Mourinho, eis que o canal que foi dirigido durante anos por um vice-presidente do Benfica resolve transmitir na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, (mais) um jogo do mesmíssimo Benfica. Feitas as contas, dos seis jogos da fase de grupos, serão/foram transmitidos três do Benfica, dois do Sporting e um do Porto, quando, a justiça, o respeito, a isenção e a independência mandam que fossem transmitidos dois jogos de cada uma das equipas.

Mas não vai ser assim que vai acontecer. Na últim jornada, a TVI volta a optar pelo Benfica, que vai disputar um encontro em que o único motivo de interesse será perceber se o SLB vai acabar a fase grupos com quatro, cinco ou sete pontos, mas sempre em último lugar. Resumindo, é um jogo que não interessa nem ao menino, (nem ao Jorge), Jesus. Por outro lado, o Porto, já apurado e com o primeiro lugar garantido, pode igualar a sua melhor pontuação de sempre na Champions. O mesmo Porto que tem mais pontos que os rivais de Lisboa juntos, nesta edição da prova. O mesmo Porto que foi o único clube que, até ver, ainda não se espetou contra Maribors da vida e que tem 7,5 vezes mais golos marcados do que o clube que vai ter honras de transmissão televisiva em sinal aberto. O mesmo Porto cujos adeptos merecem um tratamento igual aos dos seus rivais. O mesmo Porto que tem tanto direito de ter tantos jogos da Champions transmitidos em sinal aberto do que Benfica ou Sporting.

Infelizmente, a TVI opta por transmitir um jogo que será quase um amigável. Se queriam desprezar e ignorar o Porto, o que não é de admirar, porque para os barrigudos alapados num qualquer escritório lisboeta, tudo o que fugir às portagens de Alverca é um país diferente e atrasado, ao menos que transmitissem o Sporting e evitar passar mais uma provável pouca vergonha, porque para tal já chega a Casa dos Segredos. Pelo menos, o jogo do Sporting tem interesse, o clube tem, realmente alguma coisa em jogo e, eu sempre ouvi dizer que acontecimentos raros ou extraordinários, tipo a eleição de um novo Papa, a prisão de um ex-primeiro-ministro ou a participação do Sporting na Champions League merecem destaque e honras de abertura de telejornais.

[Liga dos Campeões] 2ª Jornada: FC Porto 1 - 2 Atlético de Madrid


Depois de uma primeira parte bastante bem conseguida e em que conseguimos passar para a frente do marcador, nada fazia crer que iríamos sair do jogo de ontem com algo menos do que uma vitória. O FCP voltou a fazer uma segunda parte sofrível, sem intensidade, baixando as linhas e desorganizando-se em bastantes mais momentos do que aqueles que o mais paciente adepto concebe permitir a uma equipa que é, e supostamente quer continuar a ser, uma das equipas do pote 1 do sorteio da Liga dos Campeões. 

Quero acreditar que nem tudo foi mau e até conseguir concordar que o resultado não é assim tão justo mas mais uma vez a falta de atitude e garra da segunda parte fazem-me recuar e achar que o Paulo Fonseca não vê os mesmos jogos que eu. Vamos por partes:


  • Intensidade dos primeiros 45 minutos: a forma como entramos em campo, com pressão alta sobre o portador da bola, linhas subidas, sectores bem coordenados, espaços reduzidos e sobretudo eficácia de passe fez-me pensar que as últimas más exibições eram para esquecer. A equipa finalmente dava sinais de querer inverter a imagem que tem deixado nos últimos tempos e acabamos mesmo por chegar ao golo num livre sublimemente marcado pelo Josué ao qual o Jackson correspondeu com a classe a que já nos habituou. Podíamos ter alargado a vantagem mas não fomos eficazes na finalização.
  • O talento de Josué: calou muita gente ontem. O Paulo Fonseca assumiu o risco de retirar Licá do onze inicial (já aqui volto) e acertou. O nosso 8 portista esteve bastante activo no jogo, assistiu para o golo de Jackson e teve dois ou três excelentes pormenores que ficaram na retina. Combinou bem com o meio campo, ajudou a pressionar alto e foi extremamente importante nas jogadas de ataque sempre que a bola passava por ele.
  • Fernando: pareceu jogar como gosta, sozinho. Intencionalmente ou não, Defour aparecia muitas vezes adiantado e o nosso meio campo assemelhava-se ao que tivemos durante os últimos três anos, com o Polvo a ocupar todos os espaços à frente da defesa. E é assim que ele brilha.
  • Onze inicial: bem pensado, bem montado e que permitiu dominar a primeira parte.


  • Displicência da segunda parte, especialmente da defesa: entramos desconcentrados, lentos, sem imaginação. Sofremos dois golos de bola parada quando à priori sabíamos que essa era uma das armas dos espanhóis. Fizemos faltas desnecessárias e perdemos por causa dos erros infantis da defesa nos lances que daí advieram.
  • Palavras de Paulo Fonseca: "Mesmo depois de sofrermos o golo, encostámos o Atlético lá atrás. A nossa equipa não quebrou na segunda parte". Não quebramos na segunda parte? A sério? Foi por isso que recuamos as linhas, que os jogadores ficaram exaustos e tiveram que recorrer a inúmeras faltas, algumas disparatadas e que só por acaso deram dois golos ao Atlético de Madrid. Não percebo qual foi o objectivo destas declarações e espero que o nosso treinador não seja ingénuo ao ponto de pensar que nós comemos o que nos dizem sem espírito crítico para perceber que na segunda parte o Atlético jogou porque nós simplesmente não nos impusemos.
  • Substituições: mesmo que o Lucho estivesse em dificuldades, numa altura em que não conseguíamos controlar o jogo a meio-campo e consequentemente dávamos a bola ao adversário, o treinador decide perder ainda mais meio-campo e meter o Quintero. Não fez qualquer sentido e só levou a que nunca mais conseguíssemos recuperar. Para além disso, Quintero nada fez em campo. Ainda neste aspecto, deixar o Varela acabar os 90 minutos e voltar a recorrer ao Ghilas como se de um D. Sebastião se tratasse é de bradar aos céus.

  • Agressividade/ingenuidade do Josué: se por um lado se deve elogiar a capacidade de entrega que teve ontem, por outro devemos criticar o excesso de agressividade que forçou o treinador a substituí-lo antes que visse o segundo amarelo. Acho que isto se deve sobretudo à sua inexperiência internacional e com o tempo irá aprender a não cometer estes erros que podem custar pontos.
  • Sistema táctico: é neste momento o hot topic das conversas entre portistas. Não estamos habituados ao duplo pivot e os resultados e exibições alcançadas até agora não nos levam a suspirar pelos próximos jogos. Neste modelo a defesa fica sem dúvida alguma mais exposta e a falta de largura e explosão no ataque faz com que não consigamos tirar pleno partido das vantagens do mesmo. Paulo Fonseca já disse que tinha as suas ideias mas eu pergunto, até quando?

Dois jogos, 3 pontos, segundo lugar no grupo. Ainda vamos à Rússia e a Madrid, ainda vamos receber o Zenit do Hulk e Witsel. Eu acredito que passamos a fase de grupos mas se continuarmos a achar que depois de marcar podemos dormir à sobra do resultado, como se fôssemos uma equipa pequena, podemos (e vamos) dar-nos mal. Pede-se garra e ambição e mais actos do que palavras.