O Pai do Alexandre

Eu sou do tempo em que quando o Presidente do Futebol Clube do Porto falava, o país abanava. Ninguém ficava indiferente às palavras de Pinto da Costa. Ninguém. Pinto da Costa atacava indiscriminadamente quem ousasse beliscar o Porto. Os inimigos do Porto eram seus inimigos. E quem se metia com Pinto da Costa e o Futebol Clube do Porto estava, normalmente, tramado. Quem tiver memória lembra-se de como indivíduos como Luís Filipe Vieira, Dias da Cunha, João Malheiro, Sousa Cintra, Valentim Loureiro e o seu filho João ou Pimenta Machado foram ridicularizados por Pinto da Costa.

Era um tempo em que Pinto da Costa punha o clube à frente de tudo e de todos. Há um dirigente do Porto que é administrador da Cofina? Rua com ele. Há um Dragão de Ouro que se torna empresário de jogadores e é muito próximo do Benfica? Torna-se persona non grata. Esse empresário arrasta o filho do Presidente com ele? Corta-se relações com o próprio filho. Nada mais simples.

Hoje, Pinto da Costa mudou radicalmente. Se antes Pinto da Costa se batia pelos seus até à exaustão, actualmente não se importa de ridicularizar publicamente um atleta do clube, Adrian Lopez, para se salvaguardar do disparate que fez ao contratá-lo. Diz Pinto da Costa que o contratou porque Jorge Mendes e Lopetegui fizeram de Adrian Lopez um novo Maradona e que investiu 11,6 milhões de euros porque Mendes lhe prometeu que se a aposta fosse falhada o Porto recuperava o investimento. E o departamento de scouting, que disse de Adrian Lopez? Não foi ouvido? E que presidente é este que mete 12 milhões de euros nas mãos de um empresário? O único culpado pelo falhanço da contratação de Adrian, para além do próprio, que não mostrou cá um décimo do que fez em Espanha é o próprio Pinto da Costa, que foi comido de cebolada e ainda se faz de vítima.

Hoje, Pinto da Costa é mais o pai do Alexandre do que o Presidente do Futebol Clube do Porto. Hoje o Presidente do Futebol Clube do Porto preocupa-se mais em defender os interesses do filho do que os do clube. Em todas as entrevistas, quando o tema é abordado ainda que ao de leve, Pinto da Costa veste a capa de justiceiro e defende o filho até à exaustão. Defende mais o filho do que o clube, clube do qual é presidente e é nessa qualidade que é entrevistado. Pinto da Costa não se cansa de referir que não tem culpa que o filho seja agente de atletas (a propósito, alguém reparou que Alexandre, o injustiçado, desapareceu da página da Energy Soccer?). Mas foi na condição de agente de atletas, e associado de José Veiga que Alexandre, o mal-amado, levou Drulovic, João Manuel Pinto e Feher do Porto para o Benfica e foi na qualidade de agente de atletas que Alexandre, o homem de bom coração que arranja emprego ao pai de um atleta, festejou um campeonato do Benfica no Bessa em 2005? Entretanto, Alexandre, o desgraçado, lá vai fazendo as suas negociatas, enchendo os bolsos à custa do clube, recebendo comissões ilícitas e para o pai de Alexandre, o empreendedor, está tudo bem. Pergunto eu, e para o presidente do Futebol Clube do Porto está tudo bem? E para o sócio e adepto Jorge Nuno Pinto da Costa?

Por fim, e a propósito da entrevista de ontem ao JN, mais dois assuntos. Primeiro, Pinto da Costa referiu-se aos membros das claques, como os verdadeiros portistas. Em primeiro lugar eu não sou membro de nenhuma claque, mas, pelo menos, não me engano no nome delas, e não admito a ninguém, nem a Pinto da Costa que classifique o meu portismo. Em segundo lugar, que eu saiba Pinto da Costa nunca pertenceu a nenhuma claque... Segundo, Pinto da Costa voltou a referir o provedor do sócio, dizendo que está disponível para atender os associados. Pena é que eu envie um e-mail em agosto com um conjunto de sugestões e receba a resposta três (!) meses depois com um "obrigado, vamos analisar". Fica a questão, quando Alexandre, o orgulhoso associado, tem algum problema com o clube, dirige-se ao provedor e fica três meses à espera ou vai directamente ao pai, como faz quando quer comprar acções da SAD?

De quem é a culpa?

De cada vez que o Porto tem um mau resultado, os adeptos ficam frustrados. E, como ficam frustrados, tentam encontrar um bode expiatório sobre quem recaem as culpas do fracasso. No mundo do futebol, independentemente do país, há sempre dois culpados preferenciais, os árbitros e o treinador, com uma exceção, no estádio da Luz, a culpa é de Eliseu.

Este ano, os adeptos como sabem que não têm motivos suficientes para se atirarem aos árbitros, atiram-se ao Lopetegui, que, curiosamente, é o único que se atira aos árbitros. Em todos os maus resultados, na Madeira, em Moreira de Cónegos, com o Braga ou agora com o Dínamo, Lopetegui foi apelidado de incompetente, azelha, burro e nem a sua mãe foi poupada pelos adeptos mais revoltados.

E, a verdade é que Lopetegui tem culpa. Muita culpa, até. Um treinador que não é capaz de tirar o melhor de grande parte dos jogadores de que dispõe, que claudica, repetidas vezes, em momentos decisivos, que é incapaz de ganhar um jogo na Madeira, que é incapaz de dar a volta a um resultado em ano e meio de clube, mesmo beneficiando dos dois plantéis mais caros da história do Futebol Clube do Porto, é evidentemente culpado. Um treinador que abdica de ter um mínimo de criatividade no meio campo, tem culpa. Um treinador que entra em campo com três trincos, coisa só vista em Octávio Machado, tem culpa.

Mas a culpa não pode morrer solteira, ou casada apenas com Lopetegui. Não, a culpa é polígama e tem de ter vários cônjuges. Lopetegui é, evidentemente, um deles. Mas, acima deles, há um conjunto de indivíduos que também partilham o leito conjugal com a culpa e, aparentemente com uns quantos parasitas, de forma demasiado promíscua, a lembrar os filmes da Cicciolina, os administradores da SAD.

É por culpa de quem manda que não há mística, é por culpa de quem manda que se desbaratam milhões de euros todos os anos. É por culpa de quem manda se achar alquimista que se compra entulho achando que se vai transformar em ouro. É por culpa de quem manda que se enchem os bolsos a Marcelo Simonian, à Doyen, a António Araújo, ao filho do Presidente e ao ex-cunhado do CEO e se esvaziam os do clube. É por culpa de quem manda que se contratam jogadores que chegam já a pensar em sair e que preferem dar nas vistas a ajudar a equipa. E é por culpa de quem manda que Lopetegui é treinador do Porto.

Ninguém duvidará das enormes capacidades de Pinto da Costa. Não há ninguém, nem mesmo o mais alienado adepto de um clube rival, que não o reconheça, por muito que o sapo a engolir seja do tamanho de Pedro Guerra. Pinto da Costa foi um visionário, o melhor presidente da história mundial. Pinto da Costa sabe de futebol como poucos. Mas, como líder máximo do clube, não pode nunca na vida ser ilibado de responsabilidades. Um bom chefe, um líder, tem de assumir como seus os fracassos das pessoas com quem trabalha e responsabilizar-se por eles, dando a cara. Não é isso que tem acontecido.

Aquilo que eu peço aos adeptos e sócios do meu clube é que pensem pela própria cabeça. Não se iludam com os "sinais de robustez das contas do clube" que o Dragões Diário hoje inventa. Não embarquem na onda da culpa ser dos árbitros por não marcarem penaltis a nosso favor. Não se inibam de exprimir as vossas opiniões, sejam elas quais forem, mesmo que as típicas ameaças surjam em catadupa. Façam barulho. Só assim a vossa voz será ouvida.

E agora, este fim-de-semana, há que ganhar ao Tondela, ao Cab Madeira, ao ADA Maia e ao Barcelona.

Relatório de Empréstimos - 26/05/15


A última semana da época para muitos dos emprestados do FC Porto foi recheada de golos, assistências, figuras e até polémicas. Pode-se dizer que foi até a semana mais produtiva de toda a época.
Liga NOS: Tiago Rodrigues e Otávio foram escolhidos como figuras dos respetivos jogos pelo jornal A Bola, o primeiro por assistir uma vez e marcar outra e o segundo por ter passado por ele "quase todo o jogo ofensivo dos vimaranenses" conseguindo ainda marcar um golo de cabeça(!). Ainda no jogo do V. de Guimarães, Sami fechou bem a época com mais uma assistência para golo, parecendo nestes últimos jogos bem melhor que na restante temporada. Tozé voltou a mostrar o seu valor nas bolas paradas com mais uma assistência de livre, fechando a época com o maior número de assistências entre os emprestados do FC Porto: 11.
2ª Liga: Do melhor assistente para o melhor marcador dos emprestados: Mauro Caballero marcou mais dois golos, elevando para 16 tentos certeiros na temporada de 14/15, sendo também ele o líder em minutos. Não necessariamente sinónimo de qualidade, mas é um indicador de que talvez Caballero esteja pronto para o nível seguinte, seja ele qual for.
Pela Europa: Carlos Eduardo fechou a época com mais duas assistências e segundo Pinto da Costa já assegurou o seu lugar na pré-época do FC Porto. Foi uma época produtiva para o médio brasileiro com 10 golos e 5 assistências e parece ter convencido os dirigentes da SAD. Também Josué esteve em grande com uma assistência que valeu a passagem à final da taça da Turquia e no penúltimo jogo da liga voltou a marcar, desta vez de penalty (à Panenka), dando a vitória ao Bursaspor. Um problema a resolver também para a próxima época, entre o seu "portismo", qualidade e o seu alto valor de mercado, iremos ver o que falará mais alto. Em Itália, Varela marcou o seu último golo na jornada derradeira da Série A, terminando assim uma temporada cinzenta para o extremo.
Outras Ligas: Rúben Alves, com o campeonato mais que decidido no Famalicão, fez os primeiros minutos a titular desde há muitos meses e até marcou. Qual o valor deste jovem ou o porquê de estar num empréstimo tão pouco rentável, só a SAD e Alexandre Pinto da Costa (o seu empresário) o saberão. Por fim, no Brasil, Walter manchou a sua exibição frente ao invicto Goiás com uma expulsão no mínimo bizarra.

Para breve e após o término de todos os campeonatos europeus, será feita uma análise aos desempenhos de todos estes jogadores, com estatísticas mais detalhadas, tentando lançar alguma luz sobre a rentabilidade dos empréstimos do FC Porto. Vejam como ficaram os números finais da época para a maior parte dos jogadores emprestados do FC Porto e as (muitas) imagens dos melhores momentos:



Assistência de Josué (5:59):

Panenka de Josué (2:30):

Golo de Otávio e Assistência de Sami:
Assistências de Carlos Eduardo:




Golo de Varela:

Assistência e Golo de Tiago Rodrigues:

Assistência de Tozé:

Expulsão de Walter:

Não há dinheiro

Uns dias depois de oficializar a compra do argelino Brahimi por 6,5 milhões de euros, correspondentes à totalidade do passe do atleta, o Futebol Clube do Porto alienou 80% desse mesmo passe à Doyen Sports por 5 milhões. Este negócio avalia o passe do atleta em 6,25 milhões de euros, menos 250 milhares de euros do que aquilo que o Porto pagou pelo jogador. Ou seja, à cabeça, já estamos a perder esses 250.000 euros.

Ainda que este negócio possa envolver uma recuperação de parte do passe de Mangala, cuja oficialização no Manchester City deve estar por horas, importa analisar e perceber como o Futebol Clube do Porto se está a movimentar no mercado de transferências. Há duas coisas que sobressaem imediatamente. Uma é o facto da administração da SAD, pela primeira vez em muito tempo, estar a permitir que seja o treinador a escolher os atletas com quem quer trabalhar, o que, a não ser que aconteça uma hecatombe, como uma saída não adequadamente compensada de Jackson Martinez, fará com que Lopetegui terá um excelente plantel, cheio de soluções, o que originará que seja o único responsável caso a época corra mal, isentando Pinto da Costa (e o filho, a filha, o genro e todo o resto da família), Antero Henriques e o resto dos dirigentes. A outra é que o Porto não tem dinheiro para dar essas condições a Lopetegui (nem para mandar cantar um cego, sequer).

O facto do Porto não ter dinheiro, fruto de gastos desmesurados acumulados ao longo dos anos, não é novidade e, então, recorrer a fundos torna-se necessário, ainda para mais quando as portas da banca, por imposição da troika e devido às trapalhadas no BES estão cada vez mais fechadas. Do mal o menos, o Doyen Sports é o menos obscuro de todos estes fundos esquisitos. É o único que tem página na internet e é o único de quem se conhece a carteira de atletas. Só não se sabe a quem pertence o fundo.

O que é importante verificar é que o Futebol Clube do Porto está a apostar tudo na época que se avizinha. Faz sentido. É necessário ultrapassar rapidamente a pior época da história da presidência de Pinto da Costa e é necessário fazer uma boa campanha europeia sob pena de, muito rapidamente cairmos muitos lugares no ranking da UEFA. Assim, a solução encontrada pelo clube foi recorrer aos fundos. Com isto, o clube está a apostar tudo na vertente desportiva, abdicando da financeira. O clube, para poder ter um grande plantel hoje, está a abdicar de o ter no futuro. E o que todos tememos é que para ganharmos hoje, estejamos a abdicar de ganhar no futuro. Esperemos que não se traduza numa debandada como se vê lá para baixo, no clube que nunca mais ia ter que vender.


O Filho do Presidente

Alexandre Pinto da Costa, nascido em 1964, é filho do nosso eterno Presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa. Sempre foi conhecido, no mundo do futebol, como representante de atletas.

Tornou-se mais famoso aquando de uma zanga com o pai, por, na altura, ser colaborador de José Veiga, também agente de atletas, antigo presidente da Casa do Porto do Luxemburgo e, posteriormente, dirigente do Benfica. Esta zanga, ocorrida na viragem do século, sensivelmente, teve como principal repercussão pública, o envio do atleta Miklos Feher para a equipa B portista, precisamente por ser representado por Veiga e Alexandre Pinto da Costa.

Entretanto, nos últimos anos, Alexandre Pinto da Costa reconciliou-se com o pai e voltou a aproximar-se do Futebol Clube do Porto. Em julho de 2012 criou a empresa de agenciamento de atletas Energy Soccer e, entretanto, mesmo sem ter qualquer cargo no Porto, representou o clube numa visita a uma delegação oficial do mesmo.

Muitos são os boatos que circulam pela internet sobre as reais intenções de Alexandre Pinto da Costa. Todavia, aqui, no Mística, cingir-nos-emos aos factos disponíveis na internet. Uma consulta rápida à página online da Energy Soccer permite aferir que, ao contrário da maioria das páginas de empresas da área, a lista dos atletas agenciados não é divulgada.


Assim, é necessário recorrer ao ZeroZero, para conseguir identificar a, refira-se, curta carteira de atletas da Energy Soccer, que, acreditando na fonte, para além de diminuta, tem apenas dois atletas de renome, Rolando e Alvaro Pereira.


Continuando a analisar o site da Energy Soccer, verificamos que a empresa apenas noticia três negócios. Estes três negócios têm um ponto em comum, foram todos efectuados entre equipas italianas e o Porto. Estes negócios são os empréstimos de Rolando a Nápoles e Inter de Milão e a venda de Álvaro Pereira a este último clube. Todas as outras notícias visam relatar encontros de Alexandre Pinto da Costa com figuras do futebol internacional, como Harry Redknapp.

É evidente que, com base nestes factos, a empresa de Alexandre Pinto da Costa sobrevive à custa de negócios com o Futebol Clube do Porto, presidido pelo seu pai. Passando a parte ética da questão à frente, subsiste a dúvida: quanto custará tudo isto aos depauperados cofres da nossa SAD?

Fica a questão para quem de direito.