Hoje é que era...

Meu caro Kléber,

Desde que despontaste no Marítimo que tenho seguido a tua carreira com atenção. Eras muito novo, tinhas 18 ou 19 anos, mas mostravas uma técnica invulgar para alguém da tua estatura. O jogo de cabeça era muito bom, não só na hora de atirar à baliza, mas na desmarcação dos colegas. Aliás, em geral essa era a tua característica que mais sobressaía, o saber jogar de costas para a baliza. Além disso marcavas golos.

O ano passado diz-se que andaste perto do Porto, mas a verdade é que apenas chegaste este ano. Se calhar não pensavas que ias ser atirado aos Dragões tão cedo, que irias ter tempo para te deslumbrares em paz, mas às vezes a vida dá voltas engraçadas. O Falcao saiu, e não é um rapaz qualquer, tivéssemos nós outra imprensa e não precisaríamos dos Espanhóis para nos fazer notar que depois do Jardel, este é o primeiro a merecer figurar numa música do Rui Veloso.

Mas estou-me a dispersar.

Eu acreditava em ti... não, eu acredito em ti! Mas estás a perder-te rapaz, por culpa de outros que não te cruzam a bola mesmo sabendo que és alto, saltas bem e cabeceias melhor, mas também muito por tua causa. Andas sempre na lua, sempre a pedir desculpa, sempre deslumbrado com as fintas do Hulk, com a maravilhosa obra do Manuel Salgado e com uma moldura humana que desconhecias, e é tempo de te deixares disso. É tempo de olhares para o jogo, para a bola, e é tempo de a colocares no fundo da baliza.

O mundo é teu, estás num grande Europeu, campeão nacional e da 2ª divisão europeia. Estás na liga dos campeões, és titular e foste convocado para a Canarinha. A tua carreira começa hoje, e hoje é o dia em que vais ter de gravar a ouro o teu nome.

Hoje é que era, Kléber...

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