Os Pipoqueiros



A construção do Estádio do Dragão foi um grande passo na modernização e no crescimento do Futebol Clube do Porto. Um conjunto de comodidades, que as Antas não tinham, nem tinham possibilidade de ter, o que atraiu muito mais adeptos ao estádio. De facto, hoje demora-se dois minutos a entrar e sair do estádio. Nas Antas, chegava a levar mais de uma hora. Hoje há metro à porta. Nas Antas, o carro ficava longe, muito longe. O Dragão é coberto. Nas Antas, os adeptos apanhavam com autênticos dilúvios. Nas Antas, os bares eram, para ser simpático, humildes. Hoje há sandes, pizzas, pipocas e o Dolce Vita ali ao lado. No Dragão, não há redes a fazer-nos ver o jogo aos quadradinhos, ao contrário das Antas. No Dragão, o relvado está bem mais próximo das bancadas do que nas Antas.
Sucede que estes luxos do Dragão contribuíram decisivamente para uma nova vaga de adeptos, que chega tarde, sai antes do intervalo para não apanhar filas no bar, volta depois do jogo recomeçar e vai embora antes do fim, incomodando, obviamente, todo e qualquer adepto que queira ver o jogo sossegado. Mais, são pessoas que vão ao futebol ver o Porto ganhar, e não ver o Porto jogar, que só vão ao futebol porque está na moda e porque o Porto ganha quase sempre.
No limite, nem sabem que o clube é, também, campeão de hóquei e de andebol e não fazem ideia que o Dragão Caixa existe. Vão para poderem dizer que são portistas e se destacarem de indivíduos que tiveram o azar de não ter um pai em condições que os fizesse dragões. O problema surge porque estes "adeptos" julgam que o futebol é como a ópera, o cinema ou o teatro e que estão à espera de ver sempre um bom espectáculo. Esquecem-se é que o Futebol Clube do Porto tem sempre onze indivíduos do outro lado a tentar estragar o espectáculo que os pioqueiros querem ver. Esquecem-se que o grande objectivo do clube é ganhar. A famosa nota artística tem de ficar para 2º ou 3º plano. E esquecem-se que o Porto não pode ganhar sempre. Devia poder, mas não pode. Mas para os pipoqueiros, tem que ganhar sempre, caso contrário já não interessa ser portista.
Com tudo isto, os pipoqueiros são sempre os primeiros a abandonar o barco. Se as coisas começam a correr mal, são sempre os primeiros a assobiar, a insultar e a criticar. Arrasam jogadores, insultando-os, tecendo comentários muitas vezes de teor racista e/ou xenófobo, no caso de atletas de raça negra, e depois festejam os seus golos loucamente. Estes são os indivíduos que no ano passado levaram um justíssimo castigo. São os mesmos que já iam a meio da Alameda do Dragão, quando ainda não se faziam largadas de touros por lá, quando um rapaz com penteado pitoresco marcou o golo mais festejado da história do Dragão. Pensei eu que poderiam ter aprendido a lição. Nada disso. Contra o Braga e com escassos 5 minutos decorridos, já havia assobios. Pasme-se, conseguiram assobiar ainda antes de Paulo Fonseca bater palmas e gritas "vamos!" pela primeira vez.
Há coisas fantásticas não há?
Em jeito de conclusão, aqui há uns anos, uma das claques afectas ao Porto levou para o Dragão uma tarja que dizia: "Metam o assobio no cú". Eu propunha que fizessem o mesmo ao pacote das pipocas.

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2 comentários

  1. os pipoqueiros também são aqueles que, tendo ido ao estádio, não viram, ao vivo e a cores, o momento Kelvin.

    como compreendo as tuas palavras e o sentido do teu desabafo...
    (apesar de não estarmos a jogar um car@...ças, sei que existem três resultados possíveis num jogo de futebol, se é que me faço entender.)

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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  2. Pois pá, mas o gajo do penteado esquisito passou a proscrito pela mão da foca. Nem 8 nem 80! nem assobiar nem bajular. Esta política de treinadores é de bradar aos céus e o resto são só desculpas. Não é ópera SEMPRE!!! mas de vez em quando faz alguns sentido quando se fala no desporto rei e no espectáculo do futebol. Ou agora a bitola é mediocre sempre desde que de uns pontinhos no fim? Se calhar nem se pede ópera mas consistência e qualidade. Passar bem.

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