Quatro por quartos



Quem já não se lembrava de sentir um orgulho desmesurado em ser portista ao sair do Estádio do Dragão após um jogo da nossa equipa que ponha o dedo no ar. Bem me parecia que eram muitos. Transcende a alegria normal de apoiar o clube, avançando para uma esfera de percepção de que a grandeza dos nossos feitos estão ao alcance de muito poucas equipas num contexto mundial. Esse sentimento acolheu-nos durante largos períodos da já remota época em que contávamos com André Villas-Boas como treinador, e ontem voltou a bateu à porta de muitos portistas. Após seis anos, o Porto está de regresso aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e ninguém pode ficar indiferente à facilidade estonteante com que conseguimos eliminar toda a concorrência que foi tentando atravessar-se no nosso caminho. E ontem não foi excepção, com um resultado fabuloso a encerrar o ciclo mais complicado da época até ao momento e a encerrá-lo com chave de ouro.

Desde cedo no jogo se percebeu que a estratégia do Basileia iria invariavelmente passar pela continuação daquilo que tinha sido aplicado na primeira mão, uma equipa agressiva (que apenas o pôde saber pela total complacência das equipas de arbitragem em ambos os jogos) e rápida a lançar o contra-ataque. E não mais que isto. E não porque a equipa de Paulo Sousa não soubesse fazer mais, mas porque o Porto de Lopetegui não permitiu qualquer tipo de estratégia alternativa aos suíços.

(Brahimi a cair imediatamente no portador
da bola na primeira fase de pressão do Porto)
(Pressão alta do Porto retirando por completo linhas de
passe no primeiro momento de construção do Basileia)
Praticamente desde o início do jogo, uma pressão alta extremamente intensa e bem executada, a ter como principais focos Brahimi, Herrera e Evandro permitiram ao Porto recuperar inúmeras bolas ainda na zona defensiva do Basileia (fosse por desarme ou por forçar o erro do adversário). Essa pressão inicial resultou de forma praticamente imediata no assumir do controlo de jogo da nossa parte, com um estilo de posse de uma serenidade invejável. O estilo de jogo que a equipa falhou em implementar na primeira meia-hora diante do Sporting, ontem executou-o com mestria; bola em Fabiano, centrais bem estendidos nas laterais (e que jogo fizeram Maicon e Marcano!) e a procura de bola no centro por parte de Casemiro, sempre com os médios da frente prontos para o auxílio. E nem com um lateral esquerdino na direita e um central na esquerda o Porto se ressentiu ou alterou a sua forma de jogar, e a verdade é que tanto Alex Sandro como Indi - mesmo com todas as suas limitações compreensíveis dado a sua posição de origem - estiveram sempre a um muito bom nível.


A partir daí, uma saída para ataque ponderada, sempre com grande qualidade de passe e segurança nas tarefas a executar, resultando naquela que talvez fosse a ideia de sempre de Lopetegui relativa ao "tiki-taka" que tantas vezes durante a época vimos ser criticado pela sua falta de eficiência. Hoje em dia parece diferente, as trocas constantes de bola e a confiança de que esta não será perdida de forma infantil tornam o Porto uma equipa que sabe cansar o adversário, aproveitando depois as nossas fontes de criatividade e velocidade para construir a partir daí. Devido à forma como soubemos trazer os adversários ao nosso meio-campo - e neste capítulo sinto-me obrigado a destacar Casemiro e Evandro, perspicazes durante praticamente todo o encontro na leitura de jogo e no arrastar de marcações - tivemos muito sucesso na saída para o ataque em velocidade e através da qualidade de passe e variações de flanco de Herrera, Brahimi e Tello encontraram muitas vezes espaço para progredir pelas alas.


(capacidade de Aboubakar em vir buscar
jogo ao meio-campo do Basileia)
Quando a construção se iniciava com um passe longo ou através de jogo interior, o incansável Aboubakar estava lá; não é Jackson, mas fez o papel na perfeição. Óptimo a jogar de costas e a libertar a bola para os colegas, batalhador e sempre muito disponível, mostrou estar mais do que à altura do desafio que deverá inevitavelmente agarrar no início da próxima temporada.

(reacção imediata à perda de bola, obrigando
o portador a aliviar sem critério)
A reacção à perda de bola foi também exímia, e o auxílio dos extremos (principalmente de Brahimi) e a inteligência de Evandro (que contou com uma percentagem de acerto de passe de 94%) e capacidade atlética de Herrera (com mais de 12km percorridos) deram ao Porto uma consistência tal que foram poucos os lances de tentativa de ataque do Basileia que não morreram ainda no seu meio-campo.
Quando tal não acontecia, estava lá Casemiro, aquele que para mim foi mesmo o melhor jogador em campo, e que corroborou a minha teoria de que a comparação com Fernando parece fazer cada vez mais sentido. Disponibilidade física, desarme inteligente e intransponível com a bola dominada. Compensações aos laterais, aos centrais, aos interiores, e sem medo de avançar mesmo quando pressionado por dois ou mais jogadores do Basileia. Aliado a isso, sabedoria para ganhar faltas estratégicas que foram permitindo ao Porto respirar nos momentos mais intensos do Basileia.

Curiosamente, e apesar dos lances de golo provenientes de cruzamentos ou outras incursões vindas das laterais, apenas um dos golos do Porto não surgiu pelo meio. Bom sinal na medida em que o meio-campo do Porto começa a apresentar uma maior apetência e disponibilidade ofensiva, com Herrera a assumir grande parte do futebol de ataque do Porto pelo centro.

(Maicon sinaliza Fabiano para que
este não saia da baliza)
O único reparo que me parece legítimo apresentar depois de tal demonstração de superioridade é mesmo a constante instabilidade de Fabiano. É um guarda-redes extremamente seguro entre os postes, mas denotou-se ontem que continua a ser claramente o elemento mais nervoso no onze do Porto, com várias saídas desnecessárias que não comprometendo o jogo acabaram por resultar na lesão de Danilo que obrigou desde muito cedo a uma remodelação da linha defensiva.

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