Nós não comemos gelados com a testa



 A Porto SAD convocou uma Assembleia Geral, para o próximo dia 2 de Outubro.

Resumidamente, a AG terá três pontos, a saber:

1 - Ratificação da nomeação de Fernando Gomes para administrador da SAD;
2 - Aprovação da compra de 50% do capital da sociedade EuroAntas, dona do nosso estádio do Dragão, ao Futebol Clube do Porto;
3 - Aprovação de um aumento de capital da SAD.

O primeiro  ponto é pacífico. Fernando Gomes foi nomeado administrador, em substituição de Angelino Ferreira e a lei manda que os accionistas aprovem essa escolha;

O terceiro ponto, também seria pacífico. A Porto SAD tem apresentado péssimos resultados, que se traduzirão (será visível no relatório e contas final da época 13/14), na apresentação de capitais próprios negativos. Isto significa que a SAD terá um passivo maior do que o activo, ou seja, de forma muito básica, que aquilo que tem é inferior àquilo que deve. Isto significa que a SAD vai ficar numa situação de falência técnica. Um aumento de capital poderia ser, de facto, uma boa solução para resolver este problema. Sucede que, o principal accionista, o clube, não tem dinheiro para investir nesse aumento de capital. E, não tendo dinheiro, ou não participa no aumento de capital e arrisca-se a perder o controlo da SAD, ou tem de arranjar dinheiro.

Do parágrafo anterior, chegámos então ao segundo ponto. Como irá o clube arranjar dinheiro? Vendendo metade da EuroAntas à SAD, usando depois esse dinheiro para investir no aumento de capital. Sucede que a EuroAntas é uma sociedade com uma situação financeira invejável. Tem a sua dívida controlada, tem, nos últimos anos, apresentado lucros, tem dinheiro em caixa e tem um capital próprio muito, muito elevado. Uma empresa modelo, portanto. Ou seja, o clube prepara-se para trocar um activo "bom", a EuroAntas, por um "mau", a SAD. Vai vender aquilo que dá dinheiro para comprar algo que só dá prejuízo.

Esta solução poderia ser positiva se a SAD estivesse a inverter a sua política despesista. Como não parece ser o caso, esta operação é apenas cosmética e visa apenas permitir que o desvario financeiro da SAD continue por mais uns anos. Exemplificando: imagine-se um indivíduo com um rendimento mensal de 1.000 euros, mas que gasta 1.200 euros por mês. Vai-se endividando para poder pagar as despesas, até que chega a um ponto em que fica completamente estrangulado. Um amigo, num acto de caridade, oferece-lhe 10.000 euros para ele pagar as dívidas. No entanto, se continuar a gastar mais do que aquilo que ganha, mais tarde ou mais cedo, vai voltar ao mesmo e, a ajuda do amigo serviu apenas para adiar o problema. No entanto, se reduzir as suas despesas para menos de 1.000€, a ajuda do amigo foi útil, pois permitiu-lhe resolver o problema. Esta operação, entre o clube e a SAD, é semelhante. Se a SAD cortar na despesa, esta ajuda do clube pode ser importante. Caso tal não suceda, servirá apenas para adiar o estrangulamento por mais uns anos.

Mais a mais, quer Sporting, quer Benfica já fizeram esta operação, no passado. O Sporting, ao contrário do que a comunicação social e Bruno de Carvalho dão a entender, continua falido e o Benfica, desde que passou o estádio para a SAD, já foi forçado a renegociar o pagamento da dívida da sua construção, adiando o pagamento total da dívida por mais umas dezenas de anos, sabe-se lá a que custo. Já o Dragão está quase, quase pago, tendo sido esse pagamento efetuado de forma escrupulosa até aos dias de hoje. Srs. administradores da SAD, não estraguem tudo, a tão pouco tempo do fim.

Esperemos que tudo isto seja feito com boas intenções, e que não sirva para prorrogar no tempo o desperdício, a loucura e o deboche  que tem sido a gestão financeira da SAD.

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2 comentários

  1. Nós não comemos gelados com a testa... mas eles parecem querer continuar a comer caviar à nossa custa.

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  2. Realmente é como diz e acompanho-o no desejo com que termina este excelente poste.

    A SAD tem que enfrentar as dificuldades com valentia e deixar-se de paliativos, principalmente quando, além de nada resolverem, dão azo a que a fuga para a frente seja ainda mais vigorosa do que tem sido.

    Fala-se muito do modelo de gestão mas pouco da sua desadequação às actuais circunstâncias económico-financeirar e à evolução que se tem verificado, e se acentuará nos próximos anos, no mercado futebolístico. O fair-play financeiro veio para ficar e quem não perceber, a bem, que terá que reduzir os custos com pessoal, os custos da rubrica FSE,etc irá percebê-lo a mal, e com elevados custos desportivos.

    entendo que urge discutir o actual modelo e apontar os novos caminhos no que à gestão do nosso clube diz respeito. Essa discussão deve ser feita nos mais variados "forae" e, ao contrário de bloggers engajados e assalariados, entendo pouco avisado excluir liminarmente qualquer cenário ou qualquer caminho que venha ser apontado.

    Quem, por seguidismo,necessidades financeiras,incapacidade intelectual etc, não perceber que o clube é de todos mas, principalmente, de quem o ama desinteressadamente, não está à altura do futuro que, estou certo,a maioria dos portistas saberá reivindicar e construir.

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