Democracia eleitoral

Decorreu ontem mais um acto eleitoral do Futebol Clube do Porto. A lista única foi, obviamente, legitimada nas urnas, num acto eleitoral que decorreu de forma ordeira. No entanto, há alguns factos que merecem destaque.

Desde logo, o resultado. Pinto da Costa teve a votação mais baixa desde que foi eleito pela primeira vez, em 1982. Pelo meio, mesmo em eleições com adversários, conseguiu mais que os 79% de ontem. Sintomático do momento em que o clube vive. E que ninguém se acredite na patranha dos votos com mensagens de apoio que serviu de justificação para a elevada percentagem de votos nulos. Se nas anteriores eleições, que decorreram nos mesmos moldes, Pinto da Costa ganhou com 99% dos votos, ninguém se acredita que houve assim tantos sócios que ficaram burros de repente e se puseram a escrever mensagens de apoio, sem saber que isso inutilizava o voto.

Ao fundo uma das mesas onde os sócios podiam decidir o seu voto @OJogo
Depois, a tremenda falta de democracia que marcou todo o acto eleitoral, embora não inviabilize a legitimidade do mesmo. Desde logo, o regulamento eleitoral e os estatutos do clube foram violados durante o dia todo. O voto não foi secreto. Não havia um local resguardado onde os sócios votantes pudessem tomar a sua decisão tranquilamente. Quem não quisesse votar na lista única era forçado a riscar o boletim de voto numas reles mesas de café à vista de toda a gente. Imagine-se que, alguém mal intencionado resolvia "marcar" quem tomasse determinada decisão de voto, fosse votar na lista de Pinto da Costa ou nulo. Podiam ter acontecido situações lamentáveis que, felizmente, não ocorreram.

Seguidamente, tudo foi feito para que os sócios tomassem determinado sentido de voto. Desde as simpáticas e gentis meninas que convidavam os sócios a depositarem de imediato os votos na urna, representando esses boletins votos na lista única, em vez de informarem os eleitores de todas as opções disponíveis, até ao papel azul bem escuro e com brilho dos boletins que dificultou imensamente todas as tentativas de o tornar nulo, até à inexistência de canetas fornecidas pelo clube. Valeu tudo.

Mas pior ainda foi haver indivíduos, com o presidente Pinto da Costa à cabeça que optaram por passar grande parte do seu dia plantados na assembleia de voto. Em lado nenhum, num processo democrático, a assembleia de voto é um local de tertúlia e de convívio. Em países civilizados e democráticos, ninguém, muito menos pessoas das listas candidatas ficam na assembleia de voto a assistir ao processo eleitoral. Não se vê isso em eleições presidenciais, legislativas, autárquicas, referendos, etc. As pessoas votam e saem. Ponto final.

Por fim, e em mais um momento digno de uma democracia à moda da Venezuela ou da União Soviética, fomos presenteados com umas brilhantes declarações do presidente da assembleia eleitoral, Fernando Sardoeira Pinto, filho do histórico presidente da Assembleia-Geral do FC Porto, com o mesmo nome, que se deu ao luxo de alvitrar que votos com a inscrição "Acorda Porto" podiam ser considerados votos de incentivo e considerados como válidos. Isto pressupõe a possibilidade de uma afinação de votos que é vergonhosa e deixaria Hugo Chavez. A propósito, a rua em homenagem ao ditador venezuelano não devia ser na Amadora mas sim nas Antas.

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1 comentários

  1. tem toda a razão. o processo de eleições tem de ser revisto. como nos últimos anos tem sido sempre Pinto da Costa o único candidato e com aprovação quase unânime, não tem havido problemas. Mas se por acaso houvesse outra lista concorrente seria uma pouca vergonha.
    ainda ontem Pinto da Costa disse que preferia ter o CDS a governar o país, provavelmente numa ditadura comunista.

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